" Com o tempo, quanto mais madura e segura de
mim mesma me tornei, mais verifiquei que eu há poucos anos atrás ainda fazia
parte de um grupo mundial de pessoas cujo coração acredita no bem dos outros sem
sequer pestanejar. Eu acreditava piamente que as pessoas tinham o direito de
errar sempre, porque eram humanas. Eu acreditava que se amasse alguém, isso
bastaria para que a pessoa nunca me desiludisse. Achava que o meu amor por essa
pessoa bastaria para que a pessoa, ciente do meu amor, se acautelasse com as
suas acções. Note-se que eu raramente amei pessoas (amigos, família). Amor é um
sentimento para mim muito raro. Tão raro que as pessoas que amei ou amo
contam-se pelos dedos de uma mão. Eu posso gostar das pessoas. Mas amá-las, isso
é uma história completamente diferente que daria para grandes livros.Enfim.
Acreditava no bem das pessoas. No lado bom. Arranjava justificações para o seu
lado mau. Era devido a algo que correra mal. Era devido ao mau tempo. Era devido
a terem dormido mal. Era devido a estarem frustradas. Era devido às suas
tristezas ou depressão. Era devido à chuva que naquele dia estava mais
forte.Quanto mais segura de mim me tornei e quanto mais cresci mentalmente, mais
me apercebi de que as pessoas têm o direito de errar, mas que se alguém errar
grandemente connosco, ou mais do que as vezes aceitáveis, o mínimo que devemos
de exigir à nossa própria auto-estima é que as arrasemos de tal maneira que
nunca mais levantam um dedo para nos incomodarem. Tornei-me, assim e à custa de
muito esforço, uma pessoa tão segura de si que acredito piamente que isso me
trouxe coisas muito boas, como ter-me protegido contra falsos sentimentalismos,
desilusões, frustrações e pessoas que, dita a boa da verdade (que isto não há
nada como a verdade) não valiam o esforço de as entender, ou desculpar. Também
me trouxe (como tudo na vida tem dois lados) um lado menos positivo, que foi
ter-me tornado pouco sensível a determinados momentos. Actualmente, é preciso
realmente muito, para me incomodarem. Eu sei perfeitamente o que quero, como
quero e o que tolero que me digam. E se a pessoa em questão achar por bem ou por
graça testar os meus limites e começar a desconversar ou a não respeitar o que
eu digo, pois pode ter a certeza que sai da conversa mais arrasada do que um
animal atropelado por um camião TIR em alta rodagem. Uma pessoa já muito sábia e
com muitos anos na pele, disse-me, há dois anos atrás, que nós é que ensinamos
aos outros como é que queremos que nos tratem. Se lhes ensinamos que nos podem
tratar mal ou faltar-nos ao respeito, eles vão fazer exactamente como lhes
ensinámos. Se lhes ensinamos que os amamos no matter what, eles vão testar essa
teoria e fazer tudo o que lhes apetecer, porque afinal de contas, nós os amamos
no matter what. Este é só o maior erro da história da humanidade. Gostarmos dos
outros sem restrições ou racionalidade. Cada vez mais acredito que a
racionalidade é um bem essencial às relações humanas. Se só racionalidade é bom?
Não. De maneira nenhuma. Continuo a achar que podemos amar alguém com todo o
nosso coração. Mas tenho a certeza absoluta de que devemos levar o nosso cérebro
connosco. Assim, não tolero comportamentos hoje em dia que me incomodem, que me
irritem ou que me estraguem sequer o dia. Quem se mete hoje em dia comigo e
experimenta virar o botão da fúria e pô-lo no estado on, nem sabe ao certo que
tipo de tempestade tem pela frente nem em que estado vai sair dessa tempestade.
Porque a inteligência é um bem preciosíssimo. E é preciso sabermos usá-la.
[...]".
O texto não é meu, é da Martine do blog: À Procura da Terra do Nunca.
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