terça-feira, 26 de maio de 2015

poe os pes no chão, miúda..

Com toda a tareia da vida: ela não tinha aprendido nada!
 Continuava a ser uma miúda crédula, demasiado permissiva quando amava - amigos ou amores. Que passava a vida a colocar-se no lugar do outro e a tentar entender as suas reacções – mesmo que as não aceitasse. Que não sabia dar-se só um bocadinho e resguardar-se. Atirava-se de cabeça em salto empranchado para uma piscina cheia de nada. Sabia, como ninguém, o que custa o embate no fundo frio, seco e sombrio. Aprendeu todas as formas de regeneração, todos os meios para vir à superfície, mesmo quando nem água havia. Levantava-se, não sem custo, depois de todos os saltos mal calculados, de cabeça erguida, com um sorriso e com a determinação que a caracterizava. Era uma batalhadora. Batalhava, principalmente, contra si e contra os seus demónios. Contra todos os seus medos e inseguranças -“Insegura, tu?! Nunca!”. Determinada, mas não teimosa –“És tão teimosa, tu!!”-, lutava por tudo aquilo em que acreditava. Percorria, até à exaustão, os seus sonhos –“Põe os pés no chão, miúda…”- e revia-os vezes sem conta. Coleccionava sonhos, como miúdos que guardam tesouros recolhidos à beira-mar. Mas não pedia muito: pedia o que amava!
 A vida ensinou-a a criar novos sonhos, quando alguns se tornavam num pesadelo. Sonhava-os por inteiro, construía os seus castelos, vivia as suas tormentas e assistia na primeira fila, com um pacote de bolachas de chocolate, as paredes a ruírem. Saía no fim da projecção do seu próprio sonho: e não mais voltava. Arrumava-o em parte incerta, junto das suas memórias. Não retornava a sonhar um pesadelo.
 Era uma vencedora, mesmo que não o soubesse.
 - Rita Leston -
 (pedaços de algo que ainda não existe)

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