SilênciO

Hoje nenhuma palavra sera proferida.
Chega de lágrimas.
Chega de abraços.
Chega de palavras reconfortantes. E aquelas imagens que não me saem da cabeça…os olhares. As mãos apertadas.
Não deviam existir dias destes. Porque aqueles filhos não deviam estar a sofrer daquela maneira. O irmão mais velho não tinha que ser forte e não chorar. Aquela mãe não tinha que sofrer. A irmã mais nova não tinha que Parar.
Não deviam existir estes dias, onde as pessoas sofrem muito ao mesmo tempo que outros riem, festejam, cumprem promessas, fazem amor, dançam até não haver dia, bebem até querer, desembrulham presentes, se despedem, se abraçam, se amam, se odeiam….
Enquanto tudo isto se passa há pessoas que choram a morte de alguém querido. desolados, sem força, sem futuro, sem nada. só o abraço dos outros e a gravata preta e os óculos escuros que escondem o fim do mundo, o fim de tudo.
a morte de um pai. não sei o que possa ser. arrepio-me só de pensar. e a imagem que não me sai da cabeça do irmão que não chora. a fugir do destino e a morder o lábio enquanto a terra caía em cima do destino do pai que chegou ao fim.
A terra caía como se fossem trovões. o som grave, seco, sem piedade de quem olhava. um ultimo adeus. uma ultima memória. uma ultima lágrima, ou a primeira de muitas que não nos vão sair da cabeça.
deixou de existir um pai e isso deixa-me angustiada. triste.
devemos antecipar as desgraças e viver no limite da diversão? porque nos contemos? para depois, quando menos esperamos, ouvirmos a terra a cair no vazio?
longe dos trovões. não quero esse barulho seco da terra a bater no caixão.
não quero o choro da menina que já é mulher. não quero os lábios mordidos. não quero mais nada hoje.
[Hoje o dia é teu, todos os dias serão teus sempre que o quiseres… os meus dias são teus sempre que pedires]
[Lamento ter que acontecer algo assim para nos voltarmos a abraçar]